terça-feira, 29 de outubro de 2013

AULA 11 - ARQUITETURA MODERNISTA NO BRASIL

O MODERNISMO NOS TRÓPICOS

A difusão das ideias modernistas no Brasil tem em Lúcio Costa sua figura central. Obcecado pela tradição e pelas formas da arquitetura tradicional no país, ele descobre nas ideias de Le Corbusier um modo de renovar esta tradição, dando-lhe uma expressão contemporânea e, ao mesmo tempo, tropical. Seu projeto para o Ministério da Educação em Saúde, desenvolvido em parceria com Le Corbusier,  resumiu esta proposição de forma exemplar. Desta síntese surge a escola carioca da arquitetura modernista no Brasil com seu enfoque extrovertido, voltado para a paisagem das montanhas do Rio de Janeiro e que configura uma contribuição original e valiosa para o ideário de uma arquitetura inovadora.

Paralelamente à isso, uma segunda escola se estabelece no país a partir da obras de Oswaldo Bratke,  Rino Levi e Vilanova Artigas em São Paulo. Os fatos aí se anunciam já na Semana de Arte Moderna de 1922 e nas casas modernistas de Gregori Warchavchik, entre 1929 e 1931. Diferentemente do congênere carioca, a escola paulista se afirmaria com soluções arquitetônicas mais introvertidas, maior detalhismo técnico e desenvolvimento de arrojadas estruturas de concreto, principalmente. As palestras de Frank Lloyd Wright em São Paulo, são um fato marcante para ela. Ainda que sua influência direta tenha sido pequena, importa como uma motivação, o ponto inicial de uma mutação.

ESCOLA CARIOCA

Escola Carioca é o nome pelo qual parte produção moderna da arquitetura brasileira é comumente identificada pela historiografia. Trata-se originalmente da obra produzida por um grupo radicado no Rio de Janeiro, que, com a liderança intelectual de Lucio Costa (1902-1998) e formal de Oscar Niemeyer (1907-2012), cria um estilo nacional de arquitetura moderna: uma espécie de estilo brasileiro, que se dissemina pelo país entre os anos 1940 e 1950, contrapondo-se ao estilo internacional.
Tal arquitetura foi influenciada pela visita de Le Corbusier ao RJ, em 1929, sendo que o primeiro grande exemplar pode ser considerado o projeto do Ministério da Educação e Saúde, um dos primeiros edifícios a fazer o uso do recurso do brise-soleil.

PROPOSTA
Vanguarda cultural: influência corbusiana.

CONCEPÇÕES
Modernização estética, tradição nacional barroca, adequação climática,
paisagem brasileira.

CONCEITOS CHAVE
Pilotis colossal, desenho orgânico, extroversão, linhas curvas, topografia,
telhado borboleta.

REPERCUSSÃO
Início da arquitetura moderna no Brasil.

NOMES RELACIONADOS
Oscar Niemeyer
Lúcio Costa - Parques Monlevade (1934), Guinle (1950)
Afonso Reidy - Pedregulho (1947), MAM (1953)
Jorge Machado Moreira - Hospital de Clínicas (1952), Fundão UFRJ (1957)
Irmãos Roberto
Sérgio Bernardes
Lúcio Costa, Oscar Niemeyer, Jorge Moreira, Carlos Leão, Hernani Vasconcelos e Affonso Reidy - Ministério da Educação e Saúde

(Atenção! Não incluir Brasília.)

OBRAS DE REFERÊNCIA


Ministério da Educação e Saúde (Lúcio Costa, 
Niemayer, Moreira, Leão, Vasconcelos e Reidy
Igreja da Pampulha, Oscar Niemayer



MAM, Eduardo Reidy
LEITURA OBRIGATÓRIA
Lúcio Costa. Sobre arquitetura (1962)
Ph. Goodwin. Construção Brasileira (1943)
Z. Deckker. Brazil Built (2012)
Y. Bruand. Arquitetura Contemporânea no Brasil (1970s)
H. Mindlín. Modern Architecture in Brazil (1956)

 Ponto e Linha Sobre Plano Arquitetura Contemporanea no Brasil


ESCOLA PAULISTA

Assim como a Escola Carioca, a Escola Paulista é o termo pelo qual uma parcela importante da produção moderna da arquitetura brasileira é comumente reconhecida pela historiografia, mas não identifica toda a produção arquitetônica do estado de São Paulo. Trata-se originalmente da arquitetura produzida por um grupo radicado em São Paulo, que, com a liderança de Vilanova Artigas (1915-1985), realiza uma arquitetura marcada pela ênfase na técnica construtiva, pela adoção do concreto armado aparente e valorização da estrutura.
Preocupa-se com a afirmação de uma linguagem ao mesmo tempo moderna e nacional, utilizando as características regionais do próprio estado de São Paulo, composta pela junção da gramática racionalista a elementos ditos “tradicionais”. 

PROPOSTA
Adequação e modernização: Influência italiana (Piacentini, Art Déco) e
americana (via Bauhaus: Mies v. der Rohe, Marcel Breuer) e F. L. Wright.

CONCEPÇÕES
Pragmatismo, tecnicismo (detalhamento minucioso)

CONCEITOS CHAVE
Pátio interno, cobertura, superdimensionamento, estilo internacional, telhado
borboleta.

REPERCUSSÃO
Segunda escola da arquitetura moderna brasileira.

NOMES RELACIONADOS
Vilanova Artigas - Rodoviária de Londrina, Res. do Arquiteto (1ª e 2ª), casas organicistas (primeiras obras)
Gregori Warchavchik
Oswaldo Bratke - Res. Arquiteto, Res. Oscar Americano
Rino Levi - Res. Arquiteto, Res. Olivo Gomes, Sedes Sapientiae

(Atenção! Restringir às obras dos anos 40 e 50. Não incluir USP.)

OBRAS DE REFERÊNCIA


Resiência do Arquiteto, Oswaldo Bratke

Residència Olivo Gomes, Rino Levi


LEITURA OBRIGATÓRIA
M. Acayaba. Residências em São Paulo 1947-1975 (1985)




BIBLIOGRAFIA COMPLEMENTAR
BRUAND, Yves, Arquitetura Contemporânea no Brasil – 2010
MINDLIN, Henrique Ephim, Arquitetura Moderna no Brasil – 2000


SÍTIOS ELETRÔNICOS


15 comentários:

Teoria e Estética II disse...

O clima e a paisagem parecem aspectos condicionantes dos projetos da arquitetura modernista no Brasil. Se a paisagem do Rio e de São Paulo é diferente é lógico imaginar-se prédios diferentes na implantação e no emprego de elementos. Se assim é, porque em outras regiões do país esta arquitetura exemplar se transformou em estereótipos? Ou será que não é bem assim?

evandroxandy disse...

No Brasil, as primeiras obras Modernistas surgem quando apenas se iniciava o processo de industrialização. Segundo Lúcio Costa, o Modernismo brasileiro justifica-se como estilo, afirmando a identidade de nossa cultura e representando o “espírito da época” . Entretanto, também é possivel mensionar que os primeiros elementos, surgiram a partir de um movimento de esquerda, a sua arquitetura livre, desvinculada do detalhe que teve como função limpar os pesados edifícios que por anos servirão de ostentação para os regimes autoritários, de diversos séculos.

Unknown disse...

O que me chama atenção na dita "Escola Carioca" do modernismo brasileiro é como eles conseguem pegar a corrente arquitetônica predominante do seu tempo, o "International Style", e o transformam em algo brasileiro, com a introdução de um traçado mais sinuoso e de elementos que ao mesmo tempo adaptam tal estilo ao solo brasileiro e recuperam um pouco do passado construtivo nacional (como é o caso da utilização do cobogós). Essa é a chave desse período da arquitetura brasileira: eles fazem o futuro da arquitetura brasileira desenvolvendo um estilo internacional, mas baseando-se no passado brasileiro.

Daniela Yoshimoto disse...

Em Porto Alegre, temos dois exemplos da manifestação da arquitetura modernista, um deles é o Hospital de Clinicas de Porto Alegre do arquiteto Jorge Machado Moreira, projeto que se inspira claramente no edifício do Ministério da Educação e Saúde Pública. Possui adaptações locais atendendo necessidades, mas ao mesmo tempo, busca uma linguagem moderna e padrão, já que na época a maioria das obras em Porto Alegre eram ecléticas. Considerando o entorno da época e os edifícios que estavam sendo construídos, pode-se dizer que o edifício do HCPA foi uma implantação um tanto quanto generalizada do movimento moderno arquitetônico no Brasil.
O segundo exemplo a ser citado é o Palácio da Justiça, projetado por Luís Fernando Corona e Carlos Maximiliano Fayet. Pode-se concluir que o mesmo apresenta uma filiação moderna, com influência da Escola Carioca e de Le Corbusier, através de suas seguintes características: primeiramente, seu partido, que é constituído por um grande bloco apoiado sobre pilotis de ordem colossal, pousados em um embasamento de pedra; em segundo lugar, as subtrações nas faces leste e oeste, próximas ao topo do edifício, que diferenciam andares com funções especiais; em terceiro lugar, os quebra-sóis, colocados nos cinco andares tipo da fachada oeste; e por último, o prédio ainda conta com a presença de terraços, característica essencialmente modernista.
O edifício possui inspirações no Pavilhão Suíço, de Le Corbusier, e no MES. No entanto o volume aparece mais sólido que estes exemplos, com uma menor permeabiliadade, isso devido ao programa e ao terreno estreito. Mesmo nestes aspectos há uma influência dos Irmãos Roberto, por sua solidez e sobriedade. A obra remete ao IRB, no Rio de Janeiro, destes mesmos arquitetos, que possui um terreno semelhante.
Dessa forma, não há grandes diferenciações conforme a paisagem e outros aspectos locais. A arte do edifício, executada anos mais tarde, lhe confere em parte uma identidade própria. Esta é representada através dos murais que representam a terra, a história e a cultura do Rio Grande do Sul e através da escultura de Themis que representa a Justiça, remetendo à função do edifício.

COMENTÁRIO GRUPO 4 TURMA A
Ana Carolina Viana | Daniela Yoshimoto | Eloísa Marchetti | Marília Backes | Natália Strassburger | Tiago Martins

Teoria e Estética II disse...

A presença da tradição construtiva vernácula na arquitetura modernista brasileira sempre foi uma preocupação para o "bruxo" Lúcio Costa. Como Blondel ele preconiza a integração do novo com o antigo em qualquer obra, onde o "bon goût" seria o princípio norteador da composição. No entanto, o projeto do hotel de Ouro Preto, feito por Niemeyer, foi contestado por "romper" com a homogeneidade da cidade colonial. E aí, o que podemos dizer disto?

Anônimo disse...

A construção do hotel de Ouro Preto foi promovida pelo SPHAN, órgão governamental responsável por administrar as intervenções de arquitetura da cidade. O projeto original era de autoria do arquiteto Carlos Leão, que propôs uma edificação neocolonial com o objetivo de que o hotel se mesclasse à arquitetura original da cidade. Leão regulariza a topografia complicada com aterros e muros de arrimo. Propõe um edifício de alvenaria de tijolos à volta de pátio retangular, sobre base de pedra.
Quando o projeto de Leão já havia sido aprovado e os termos burocráticos da obra já começavam a ser discutidos, Oscar Niemeyer apresenta uma nova proposta para o projeto, desta vez modernista.
A réplica moderna de Oscar é uma barra de estrutura independente de concreto com três fileiras de colunas, lajes de piso e cobertura em balanço, teto gramado e projeção retangular com uma ponta chanfrada do lado do Palácio. O projeto procura respeitar as características naturais do terreno, adequando a edificação às curvas de nível. Também conta com colunatas colossais, planta livre e muxarabis na fachada, elemento que realiza a proteção solar e faz alusão à arquitetura original histórica da cidade de Ouro Preto. A proposta de Niemeyer acaba sendo escolhida e, com isso, percebe-se que já havia nesta época o sentimento de que melhor do que realizar uma construção contemporânea que se fantasia de antiga, é construir uma arquitetura assumidamente moderna que busca atingir com plenitude a funcionalidade do programa proposto e busca adequar-se ao seu entorno capturando a sua essência arquitetônica, mas não simplesmente copiando-o.
Lucio Costa, que participava do SPHAN, escreve apoiando Niemeyer:

“A reprodução do estilo das casas de Ouro Preto só é possível hoje em dia, a custa de muito artifício. Teríamos ou uma imitação perfeita e o turista desprevenido correria o risco de... tomar por um dos principais movimentos da cidade uma contrafação, ou...um arremedo “neocolonial” sem nada de comum com o verdadeiro espírito das velhas construções.

Ora, o projeto do O.N.S, é.. uma obra de arte e..não deverá estranhar a vizinhança de outras obras de arte, embora diferentes, porque a boa arquitetura de um determinado período vai sempre bem com a de qualquer período anterior, o que não combina com coisa alguma é a falta de arquitetura.

Da mesma forma que o automóvel de último modelo trafega pelas ladeiras da cidade monumento sem causar dano visual nenhum a ninguém, concorrendo mesmo.. para tornar a sensação de “passado” ainda mais viva, assim também a construção de um hotel moderno, de boa arquitetura, em nada prejudicará Ouro Preto, nem mesmo sobre o aspecto turístico sentimental, porque, ao lado de uma estrutura como essa tão leve e nitida, tão moça, se é que posso dizer assim, os telhados velhos se despencando um sobre o outro, os rendilhados belissimos das portadas de S. Francisco e do Carmo, a Casa dos Contos, pesadona, com cunhais de pedra do Itacolomy, tudo isso que faz parte desse pequeno passado para nós tão espesso...parecerá muito mais distante, ganhará mais um século, pelo menos, em vetustez”.
Grupo 04 - aula de terça feira
Clara Sesti Gessinger, Gabriela Stürmer Silva, Lina Forero Hernández e Luísa Mader

Belly disse...

O Modernismo foi introduzido no Brasil, numa época em que se dava início ao processo de industrialização no país, através da influência de arquitetos estrangeiros adeptos do movimento, que buscavam em seus projetos o racionalismo e o funcionalismo. O que chama a atenção quando essa arquitetura chega ao país, é o fato de que os arquitetos brasileiros não somente se apropriaram das ideias do movimento, como trouxeram a ele novas características, que o relacionariam com a situação encontrada aqui, transportando o movimento europeu para o Brasil de modo que não perdesse suas características ao mesmo tempo em que mantinha a identidade brasileira. Dessa forma, o movimento modernista no Brasil foi muito marcado, além das formas geométricas definidas, separação entre estrutura e vedação, uso de pilotis e planos de vidro contínuos nas fachadas, ainda pela integração com as outras artes plásticas através do uso de painéis de azulejo decorados, murais e esculturas, a integração da arquitetura com o entorno pelo paisagismo e o grande uso dos brises, indispensáveis na arquitetura brasileira. Segundo Lúcio Costa, o Modernismo brasileiro justifica-se como estilo, afirmando a identidade de nossa cultura e representando o “espírito da época”.
A renovação da arquitetura brasileira não teria acontecido sem a ação crucial de Lúcio Costa. Sua participação foi menos como projetista e muito mais como homem de ideias. Era preciso renovar e incorporar o debate europeu. Porém, também era preciso introduzir o dado nacional, o nosso diferencial.
A obra de Niemeyer e o papel que esta desempenha para a renovação da arquitetura brasileira são excepcionais. Mas, sozinha, a sua obra não teria sido capaz de fazer esse esforço de incorporação da arquitetura brasileira no movimento moderno. A arquitetura brasileira se renova através de projetos arquitetônicos. Mas esses projetos são objeto e consequência de uma formulação conceitual. E o grande responsável por essa formulação conceitual é o Lúcio Costa.
Não dá para pensar as ideias de Lúcio Costa sem as obras de Oscar Niemeyer. E tampouco dá para pensar os projetos de Niemeyer sem as palavras de Lúcio Costa.

Ana Carolina Tessler, Beatriz Matte, Bruna Feltes, Isabelly Tesche, Kalis Chiarani e Patrícia Fernandes. 2014/2

Teoria e Estética II disse...

A relação entre a paisagem e o clima é uma boa maneira de entendermos as diferenças das escolas carioca e paulista. Mas nem sempre a relação entre estes dois fatores a relação é linear, de forma que seguramente poderíamos apontar contradições. Neste sentido, os exemplos apresentados, tanto de uma como da outra escola, reforçam mais a primeira ou a segunda situação? Em quais casos isto é mais notável?

Matheus Hahn Oliveira disse...

A Escola Carioca é claramente mais influenciada pelo clima e paisagem, visto que neste ímpeto inicial de desenvolvimento de uma linguagem própria, foram implementadas formas sinuosas, que lembram nosso passado (e, de certo modo, mentalidade) barroco, das curvas das montanhas do Rio, de uma leveza que se atribui ao temperamento do povo... ainda mais pela contribuição de Niemeyer.
Ainda sobre a Escola Carioca, vale a pena considerar o uso de brises e a valorização dos elementos vazados como uma boa estratégia de adaptação à região dos trópicos. Maiores aberturas para o exterior e brises, por exemplo, podem ser indicados como elementos que otimizam, objetivamente, níveis de iluminação e ventilação. No entanto, é essa extroversão da Escola Carioca, ou seja, a evidência de suas inspirações (ênfase nas inspirações geográficas, para este assunto) na primeira olhadela ao edifício, que a diferenciam, de primeira, da Escola Paulista.
A Escola Paulista comunga do ímpeto de legitimidade nacional, da percepção moral da arquitetura, mas se estabelece num contexto um pouco diferente: a produção em massa, a tecnologia, a tecnicidade; A alta densidade; a superpopulação. Dito isto, o que floresce neste nicho é uma arquitetura que possui características como a introspecção, estando inibida aos arrebatamentos cariocas, primeira manifestação de um desejo que ali tomou forma de externalização animada, festiva, e que aqui se debruça sobre o tecnicismo, sobre a necessidade de dimensionar para uma superpopulação (pragmatismo, portanto).
Naturalmente, a Escola Carioca tem como características a relação com a paisagem e o clima, tomando intenso partido destes para o desenvolvimento de uma linguagem nacional, uma linguagem que represente as nossas características enquanto nação, enquanto lugar. A Escola Paulista surge depois, e lida com outras questões, de uma forma que a distancia da extroversão de sua contraparte carioca.



Bianca Borges, Marla Trabach Godinho, Matheus Hahn Oliveira, Matheus Rosa, Paloma Wendling, Shailla Giacomet - Grupo 4 2015/1

Waleska disse...

De uma maneira geral, ambas as Escolas apresentadas se desenvolveram de uma maneira linear e fiel as suas respectivas características. A arquitetura da Escola Carioca desenvolveu-se de forma a valorizar mais a paisagem e o entorno urbano do que a Escola Paulista. A Escola Carioca utilizava-se de pilotis e brises para adaptar-se ao terreno e ao clima, emoldurando a paisagem e criando elementos monumentais que se destacavam na morfologia dessa. Essas características surgiram devido a valorização da exuberância da natureza do Rio de Janeiro e também pela suma maioria de programas públicos, o que possibilitou a exploração da ideia de monumentalidade e abertura ao espaço público. Como por exemplo, o prédio do Ministério da Saúde e Educação, que utiliza elementos característicos como brises e pilotis, bem como, sua implantação que busca privilegiar as visuais e a sua forma monumental que busca destacar o prédio do entorno. O edifício da A.B.I., dos Irmãos Roberto, se apresenta como uma massa compacta e fechada, harmoniosa mas pesada, sendo uma exceção no panorama da arquitetura contemporânea brasileira, que tem como uma de suas características fundamentais a leveza.
Já a Escola Paulista, caracterizava-se por uma arquitetura mais intimista. Devido a uma paisagem mais densamente urbanizada, essa arquitetura utilizava elementos como o pátio interno para criar visuais que valorizassem o interior da edificação, dando assim, menos valor à paisagem urbana que a Escola Carioca. Por exemplo, o escritório de Rino Levi que tornou-se celebre por projetar uma série de "residências introvertidas", buscando integrar a paisagem à arquitetura com o emprego da vegetação tropical nos pátios. Porém, o próprio arquiteto citado, quando trabalha fora do contexto urbano, busca uma valorização da paisagem natural, como na Residência Olivo Gomes onde a casa se abre como um mirante para a paisagem e a estrutura linear dispõe todos os ambientes em função da vista.
Caroline Terragno, Karina Dulinski, Pedro Pupe, Priscila Piriz, Rodrigo Schardong , Simone Toebe e Waleska Avozani. Turma B 2015/1

Teoria e Estética II disse...

A arquitetura modernista no Brasil, num primeiro momento, se propõe como uma reação à arquitetura eclética, ou seja, dos estilos e das ordens. Mas ainda assim se admitia o estilo colonial português como o estilo nacional por excelência, como professava Lúcio Costa, por exemplo. Ao longo dos anos 20, no entanto, este enfoque mudou e as proposições arquitetônicas passaram a adotar o comportamento típico das vanguardas européias. Após este breve período as formas tradicionais da arquitetura brasileira parecem retornar pouco a pouco, ainda que transformados ou modernizados. Então, que exemplos poderíamos citar destas últimas manifestações e que poderiam corroborar com esta apreciação?

Raquel Monteggia disse...

A arquitetura moderna brasileira, mesmo implantando em seu estilo muitos conceitos da arquitetura moderna europeia, seguindo os cinco pontos propostos por Le Corbusier, manteve uma linguagem própria, de caráter nacional, como era sua proposta desde o início. Esse movimento iniciou em uma época na qual o Brasil ansiava por modernização, mas também por nacionalização das artes. O próprio Lúcio Costa, uma das principais figuras intelectuais desse movimento, era considerado tradicionalista e nacionalista, mas viu, na arquitetura moderna, uma forma de “renovar a tradição”.
Por um breve período, os arquitetos seguiram uma linha bastante ortodoxa em que as formas ortogonais eram fortemente predominantes. Entretanto, a grande relação da edificação com a natureza exuberante do Rio de Janeiro, e o clima tropical, influenciaram na arquitetura moderna brasileira e as formas curvas, de influência barroca, tradicionais brasileiras, retornam adaptadas ao novo momento da arquitetura. Essa situação está sintetizada na famosa frase de Oscar Niemeyer:
“(...)Fui talvez o primeiro a dizer francamente que o funcionalismo ortodoxo não me interessava e que a beleza era também uma função, e das mais importantes na arquitetura. Na verdade, o ângulo reto nunca me entusiasmou, nem as formas rígidas e repetidas dos primeiros anos da arquitetura contemporânea. A curva me atrai intensamente com a sua sensualidade barroca, e a nossa tradição colonial e o próprio concreto armado a sugerem e recomenda.”
Duas obras que evidenciam isso são, a Casa da Canoa do próprio Niemeyer e o Conjunto Residencial Mendes de Moraes, mais conhecido como Pedregulho projetado por Affonso Reidy.
No caso da Casa da Canoa, a cobertura, uma sinuosa laje plana define o projeto. A natureza é enfatizada por ela pela presença de uma grande rocha incrustada na casa na qual todo projeto gira em torno dela. Juntamente com a natureza, os esbeltos pilares tubulares, as transparentes esquadrias de caixilhos pretos e a laje sinuosa configuram o projeto.
Já no Pedregulho, Reidy busca a contextualização do objeto arquitetônico com o espaço natural, o bloco A do conjunto segue o traçado original da curva de nível, buscando enfatizar uma característica natural pré-existente. A monumentalidade e originalidade de seu desenho conferem ao bloco A um destaque que não ocorre ao observarmos as demais edificações do conjunto, entretanto ao analisarmos o conjunto a partir de sua volumetria, a barra ondulada adquire uma importância secundária. Transforma-se em um pano de fundo aos outros objetos, buscando assim um típico efeito dos espaços barrocos dos santuários religiosos do Brasil colonial, objetos menores vão mudando de proporção com relação aos objetos mais distantes e mais altos na medida em que nos aproximamos.
Dieiso Tasso De Souza Schuh, Gustavo Fernandes Silva, Juliana Moroishi de Almeida, Marina Orlandi Goulart, Rafael Puig, Raquel Monteggia de Abreu e Thomás Pires.
2015/2

Teoria e Estética II disse...

A relevância dos aportes da arquitetura modernista no Brasil não pode ser medida apenas pelo seu êxito no país. Publicações como o Brazil Builds atestam que a produção não apenas era numerosa como detentora de uma qualidade que nem em países da Europa e Estados Unidos se encontrava. A que podemos atribuir tamanho sucesso?

Margarete Freitas disse...


A diferença principal da Arquitetura Modernista Brasileira em relação ao restante do mundo torna-se evidente porque os arquitetos brasileiros da época estavam preocupados em preservar as características da arquitetura brasileira como forma de uma herança nacional, evitando, assim, o total rompimento com a arquitetura do Brasil Colonial. A estratégia de mesclar elementos, como por exemplo o muxarabi, com as novas tecnologias de então, fez com que o resultado fosse extremamente positivo e impusesse uma identidade nacional, coisa que não se via nos exemplares de outros países.

Grupo 4 - Carolina Alves, Fábio Volz, Margarete Freitas e Philippo Chies. 2016/1

Júlia da Silva Osório disse...

Além da referência à Arquitetura Colonial, a Arquitetura Modernista Brasileira criou uma linguagem singular, tomando como partido o respeito ao clima e os elementos da natureza do Brasil, pontos não tão visíveis na "arquitetura universal" dos exemplares europeus e estadunidenses. As casas pátio paulistas, a inserção no entorno e o paisagismo de Burle Marx são exemplos dessas características tropicais.